Por meio desta, eu confesso:
tenho um probleminha com Neil Gaiman.
Antes que venham as pedras, afirmo, por
favor, de que não estou tecendo críticas à este maravilhoso autor
– toda a confusão encontrada na hora das minhas leituras foram
graças a minha falta de capacidade de interpretação. Sim, ela
existe, mas não para essas leituras em específico; nós dois
aparentemente não estamos na mesma sintonia.
Mas é claro que eu me sentia perdendo
um bocado em ter que excluir da minha lista um dos maiores escritores
pós-modernos (que, por ser do meu tempo, devia apresentar-se mais
fácil) e foi um alívio quando O oceano no fim do caminho
propôs uma reconciliação.
Todas as resenhas e análises (pois
este é um livro que as rende em profusão) que li ou assisti de O
oceano no fim do caminho especulam sobre o tal rapazinho ser
alter ego do próprio Neil. Pois bem, a possibilidade não é
ridícula: todos aqueles que trabalham com literatura (ou somente tem
a intenção de fazê-lo) sabem que as infâncias destes tais seres
místicos chamados escritores não são comuns como poderiam ser.
Viver em Nárnia, Hogwarts ou qualquer outra terra mágica por boa
parte do dia (afinal, as horas são longas e abundantes quando se é
criança) moldam uma espécie de estranheza, uma dificuldade de por
os pés nos chão e conseguir viver de maneira outra que não
inventando coisas.
Como um menino imaginativo, o nosso
protagonista não tem lá muito crédito com sua família, fato que
se torna essencial depois do suicídio do minerador de Opala. O tal
minerador era um sublocatário do quartinho de cima, anteriormente
pertencente ao nosso personagem e cujo dinheiro era essencial nos
tempos passados pela família.
Depois de perder uma enorme quantidade
de dinheiro em uma aposta (situação essa que, apesar de não tão
trabalhada, gera milhares de reflexões) o minerador se suicida no
carro da família, e não querendo que seu filho fique exposto tão
diretamente à morte, ele concorda que ele vá brincar com Leslie
Hempstock, uma garota de uma fazenda próxima.
As mulheres da fazenda Hempstock,
porém, não são mulheres comuns, fato que vem a ser extremamente
útil na chegada de Úrsula, nova moradora do quartinho e babá para
as crianças que prova a ser em pouco tempo cada vez menos humana –
em todos os sentidos.
Ao ler O oceano no fim do caminho
me senti como uma criança novamente – mas não por sentimentos
gerais ou situações passadas no livro, mas sim pela impressão
forte que a obra causou. Tudo ao meu redor não se parecia exatamente
como a realidade, embora esta fosse a mesma de todos os dias. Como é
bom – e raro, mesmo nesses dias em que a vida adulta ainda não
chegou – mergulhar em um livro de uma forma tão intensa!
Não vi coesão interna no “mundo de
fantasia” do livro, somente criaturas mágicas que eram, como em
qualquer bom livro, metáforas. Finalmente, Neil Gaiman, eu consegui.
Já passava da hora.
Nunca li Neil Gaiman e, apesar de já ter ouvido falar muito bem do autor, demorei pra ter curiosidade a respeito. Eu assisti Stardust e lembro de não ter gostado nada, mas não dá pra julgar o autor a partir de uma adaptação que não foi ele quem fez, né? Meu contato mais ~direto~ com o autor, digamos assim, foram os episódios que ele escreveu para Doctor Who, que foram muito bons, e dá pra dizer que isso aumentou um pouco meu interesse.
ResponderExcluirMas esse livro especificamente chamou muito minha atenção porque esse título é interessante, essa capa é estranha e atrativa - e se eu já tinha sido comprada só por isso, resenhas como a sua ajudam bastante, então devo ler em breve. Que bom que vocês conseguiram se entender com esse livro, espero que aconteça isso comigo também (caso não aconteça, nós sempre teremos Doctor Who. Mas ainda assim, espero que dê certo hahaha).