Graças a nossa eterna e coletiva síndrome do floco de neve
especial, todo mundo gosta de passar uma fase da vida gostando de algo único e
realmente peculiar (mas só nas suas cabecinhas), abraçando bandas indie antigas
ou aprendendo maia.
Eu também tive uma fase especialmente intensa disso, claro,
mas meu interesse não era musical nem de estilo – eram bruxas.
Sim, bruxas. Creio que a paixão tenha começado graças aos
inúmeros livros lidos e filmes assistidos sobre as mesmas, sem nunca ceder a
versão preconceituosa do senso comum de que elas seriam necessariamente más.
Quando descobri uma religião chamada Wicca veio a certeza: elas não eram más
mesmo, e minha obsessão pelo assunto só aumentou, indo diminuir gradualmente
com a diversificação de temas nas minhas leituras.
Por isso, não deu para não sentir nostalgia com As bruxas de Oxford. Malena vive uma
situação que eu rezava para viver há uns anos atrás (a descoberta repentina de
poderes mágicos) e as ilustrações lindas em todo início de capítulo me
lembraram uma versão melhorada dos Almanaque
Wicca. É uma história de bruxas a moda antiga, mas passa longe de ser
clichê ou desinteressante.
Tudo começa com a velha história de sempre: uma garota
estranha (nesse caso causada pelo albinismo e número enorme de irmãos) se muda
para uma cidadezinha. Os motivos dos pais de Malena são bastante válidos: unir
mais a gigantesca família de sete filhos, que quase não se vê na correria da
cidade grande.
Para isso eles vão para Oxford, na sua cidade de origem,
comprando um imóvel conhecido como “Casa Azul”. Casas comuns não tem nome nesse
século, por isso há de se acreditar que há algo bastante especial na tal Casa
Azul – segundo os locais, ela está amaldiçoada.
A “maldição” recai sob Malena, cujo corpo começa a ser
controlado por uma bruxa que lançou um feitiço de vingança sob as suas irmãs
(que também estão a solta) décadas e décadas atrás. Enquanto ela tenta impedir
a sua segunda eu, Malena também tem que sofrer com os problemas comuns de
adaptação e fazer amigos. Aqui fica a minha primeira crítica: não sinto que
eles tenham sido explorados o suficiente. Tudo é fácil demais para Malena – ela
encontra logo amigos legais e fiéis e não tem tanta dificuldade assim com o seu
“grande amor”.
Correndo o risco de parecer repetitiva, há minha velha
ladainha – autores brasileiros, qual é o problema de fazer livros que se passem
no Brasil? Infelizmente, em pontos culturais e do dia a dia As bruxas de Oxford não deixou de
padecer da quase inevitável artificialidade quando se escreve um livro que
mostra a cultura alheia sob o olhar de um nativo. Com certeza a autora
conseguiria encontrar uma cidadezinha macabra no nosso país que seria um
cenário mais verossímil para As bruxas de
Oxford.
Mas a partir daí tenho quase que só elogios: a leitura é
bastante fluida, e embora eu sinta que tudo se desenvolveu rápido demais em
alguns pontos, gostei do encadeamento dos acontecimentos. Ao contrário de oito
entre dez autores nacionais, Larissa Siriani parece não ter tido problemas em
fazer inúmeras revisões, e não encontrei as frases truncadas que infelizmente
já estão quase virando regra.
Mesmo com a impressão de que a vida de Malena é muito
perfeita às vezes (se esquecermos da parte de hã, ter seu corpo controlado por
uma bruxa sanguinária) eu consegui simpatizar muuito com a personagem – afinal,
ela é só uma garota comum. Não me contradigo aqui: Malena é “estranha” somente
a quem vê de fora, por uma condição genética e de nascimento. Em seus desejos,
interesses e paixões ela é completamente igual a eu e você, e é muito bom que
Larissa Siriani não tenha tentando criar um floco de neve especial que
coleciona isqueiros, assiste a versão original de Star Trek e pinta o cabelo de
branco – esses daí já bastam na vida real.
A edição é linda, não
só pelas ilustrações, uma das razões pelas quais anseio para ter o segundo
volume da trilogia na minha estante – a outra, é claro, querer saber o que vai
acontecer com essa jovem bruxa de Oxford.
Hey!
ResponderExcluirEu curto bruxas tbm. Talvez não tanto quanto você ahuahuha mas curto :3 Eu não conhecia esse livro, mas quem sabe eu não procuro por aí para ler? Parece bem legal pelo que vc contou. ^^
Bjoos
penny-lane-blog.blogspot.com
Oie Isa
ResponderExcluirjá tinha visto esse livro pela blogosfera, e tenho muita vontade de lê-lo.
Gosto quando a autora utiliza elementos comuns para compor os personagens.
Essa capa ficou muito linda.
bjos
Siim, a capa é maravilhosa *_* As ilustrações do livro de forma geral tb!
ExcluirLi e adorei haha Obrigada por todos os comentários, Isabel <3 Espero que algumas das suas dúvidas quanto às "facilidades" da Malena sejam explicadas nos próximos volumes :)
ResponderExcluirQuanto à questão da localização geográfica da história, foi mais por uma questão de desafio pessoal mesmo; depois de só ambientar histórias em solo brasileiro, eu queria tentar escrever sobre um lugar longe e fora da minha realidade também. Acho que isso explica porque tem um ar meio claro de não-pertencimento haha. Mas faz parte, no desenvolvimento como autora também :)
Beijão!!
Oie Isabel =)
ResponderExcluirTenho bastante curiosidade para ler esse livro, até por que gosto de "quase" todas as histórias de bruxas que leio.
Também acho um pouco forçado quando os autores nacionais não ambientam o livro por aqui mesmo, mas acredito que dependendo do tema fique mais fácil de escrever usando referencias histórias que outros países mesmo.
Adoreia resenha! Fique ainda mais curiosa para ler a série =)
Beijos e um ótima semana;***
Ane Reis.
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