28 dezembro 2012

Rebel Heart




Eu não acredito em quem diz que não gosta de ler.

Essa é uma crença forte e irracional, quase religiosa, da qual dificilmente serei dissuadida. Não querendo puxar a sardinha para o meu lado de leitora voraz e aspirante à autora, mas não há nada que te transporte, te entretenha e te ensine como um bom livro. Existem vários motivos pelos quais alguém comete o grande engano de achar que não gosta de ler, e elenco “não ter achado os livros certos” como principal, ao menos nas pessoas que conheço. É dose que a maioria tenha começado a sua vida leitora com um Machado de Assis (maravilhoso, mas na fase certa) imposto por uma professora dificilmente simpática em um lugar que geralmente se odeia.

Ao mesmo tempo que a defendo com tanto ardor, porém, é difícil acreditar que a literatura sobreviveu a plataformas visualmente mais atraentes, como o cinema e os jogos. O Gotham writers’ workshop (oficina de escrita, cuja apostila pode ser baixada gratuita e legalmente no Brasil aqui) aponta que os personagens são a razão pela qual lemos ficção, e, mais do que isso, o diferencial entre o livro bom e o ruim. Ao contrário do cinema, por exemplo, em um livro passamos horas e horas com os mesmos personagens, entramos em seus pensamentos e conhecendo o seu passado de forma dificilmente possível na vida real, despertando, se eficiente, empatia. Como fã de literatura de gênero, fiquei um pouco cismada com essa afirmativa – não são os mundos e cenários igualmente importantes? – mas o segundo volume da série Dust Lands, Rebel Heart, me faz ver que o pessoal da Gotham está certo.

Saba é o tipo de protagonista que podia ser nossa colega de classe – não porque é comum, e sim porque é real como a dor. Esquiva e bruta, ela tem razão para sê-lo, e mostra uma coragem do tipo que só se tem caso se ame ou se odeie muito a alguém.

{Pode conter spoilers do volume um, Caminhos de sangue, a partir daqui – minha resenha deste começo magnífico está aqui.}

26 dezembro 2012

Amigo secreto blogueiro 2012

Minha relação com a fotografia é meio estranha. A aprecio bastante como arte e falo “puxa, queria ter uma câmera agora” algumas vezes por semana, mas quase tudo que já tentei fotografar foi meio desastroso.

Dasty do blog Spleen Juice organizou um amigo secreto blogueiro, onde cada participante faria como “presente” um post dedicado a quem tirou. Acontece é que a minha amiga secreta AMA fotografia – seu blog é onde ela posta seus cliques, cada um mais lindo do que o outro. Até tentei pensar em outra coisa (leia a palavra “desastroso” no parágrafo acima) mas o blog dela é tão inspirador que eu não conseguiria lhe dar outro presente que não minhas fotos chinfrins, todas inspiradas em gostos em comum (que são vários) e nas fotos inspiradoras demais da minha amiga secreta. Enfim, Andrea, espero que goste.

24 dezembro 2012

As vantagens de ser invisível (filme)




O primeiro livro que lembro de ter me emocionado com foi  A marca de uma lágrima, de Pedro Bandeira. Peguei-o pela primeira vez aos nove anos na biblioteca da escola e nos anos seguintes foram mais cinco ou seis empréstimos – cada releitura como a primeira. O enredo parece trivial, sobretudo quando se fala de um livro para adolescentes: Isabel conhece Cristiano em uma festa e, em pouco tempo, acredita que ele é seu grande amor. Mas Rosana, sua prima bonitona, pensa o mesmo – e eu não respeitaria Pedro Bandeira caso minha xará fosse escolhida ao invés de Rosana. Virando então agente dupla, Isabel escreve poemas para ambos os pombinhos, ajudando (com bondade e paciência estilo Jesus Cristo) um relacionamento que no fundo no fundo ela quer avacalhar.

21 dezembro 2012

Os irmãos Karamazov




Já deletei essa resenha umas três vezes, por simplesmente não conseguir expressar o que quer. Detesto não saber o que pensar sobre um livro mesmo depois de refletir por algum tempo (quase um mês, no presente caso) mas preciso registrar a minha opinião (ou falta de) para a posterioridade.

Os irmãos Karamazov quase me vencia, confesso. Por muitas vezes pensei em abandonar a leitura (arrastada ao longo de quase dois meses) mas a sensação de que algo legal me esperava ali era forte. E eu não gosto de simplesmente abandonar livros porque eles são obras complicadas – não me sinto bem depois.

19 dezembro 2012

Meus dez livros preferidos de 2012


Até a quarta série estudei em uma escola com uma biblioteca maravilhosa. Apesar de ter (acho) menos de quatrocentos alunos, a escola tinha umas dez vezes mais do que isso em livros. Eu, que sempre gostei de ler, chegava ao “absurdo” da taxa de uma obra por dia – sem muito dever de casa e com tantos livros a disposição, era fácil, tranqüilo e delicioso.

 Infelizmente a segunda etapa do ensino fundamental veio, e com ela colégios com depositórios de livros didáticos e módulos ao invés de bibliotecas de verdade. Em termos de literatura (tanto leitura como produção – eu fazia umas coisas bem legais para uma menina de nove anos) classifiquei meus últimos anos naquele paraíso para mini-bookaholics como melhores da minha vida. Ou classificava.

Porque nesse sentido, 2012 foi quase perfeito. Não li uma livro por dia letivo, mas graças a blogosfera descobri autores maravilhosos e dicas valiosas de penchichas. Não produzi livretos super criativos (um dia encontro a historinha das bruxas espiãs e posto – sério, eu devia comer alguma coisa alucinógena no recreio)mas terminei dois livros (um deles muito chinfrin, mas fazer o quê) e tenho um banco gigante de idéias gritando para serem usadas.

Enfim, essa lista foi dolorosamente difícil de fazer. Não entendo essa mania de top dez: não poderia ser top vinte, top trinta? Até pensei em fazer, mas como um top trinta meu ficaria maior do que a bíblia (capacidade de síntese, onde foi que eu te deixei?), então eis o veredito:

14 dezembro 2012

O colapso de tudo




Não sei por que gosto tanto de histórias sobre o fim do mundo ou a vida após ele. Talvez todos gostem, e eu só um pouco mais: às vezes ficamos tão aparentemente à beira do colapso que ele se torna algo quase desejável, para que a incerteza acabe e a corda bamba entre civilização e caos finalmente se rompa.

Embora isso soe contraditório graças ao tom distópico de muitas obras do gênero, não sou muito fã de ficção científica. Poucos livros já caíram nas minhas mãos, confesso, mas em geral os achei pouco didáticos na hora de explicar os elementos componentes do tal futuro, diferindo bastante da distopia política ou Young Adult, que são claras e práticas.

“Pouco didático” é uma crítica que não podemos fazer ao livro que resenho, O colapso de tudo. Torci o nariz quando vi na orelha do livro que o autor, John Casti, é matemático – não me dou exatamente muito bem com essa área e os conceitos embutidos nela – mas ele cumpre muito bem a promessa feita na sinopse de manter a parte técnica nas notas, para eventuais curiosos. A teoria da complexidade, que Casti usa para embasar as onze possibilidades de fim de mundo que apresenta, é explicada com exemplos recentes ou historicamente relevantes, tornando a leitura leve, o diferindo bastante dos livros de não ficção que já li.


11 dezembro 2012

Sessão de terapia + resultado do sorteio




Você pode até não gostar de novela, mas dizer que os populares dramas globais são mal-feitos é um pouquinho demais. Acompanho alguns seriados americanos e sou viciada em mini-séries de época britânicas, e posso dizer que os nossos equivalentes raramente deixam algo a dever em termos de produção – geralmente é ao contrário.



Quando se fala de inovação da trama e qualidade do enredo, porém, novelas freqüentemente pecam – o que não é difícil, considerando que elas vão ao ar seis vezes por semana durante meses. Pelo risco de ver mais do mesmo, não me incomodo em acompanhar uma há alguns anos, mas os elogios freqüentes a produções nacionais mais curtas despertaram minha curiosidade.

Resolvi começar por Sessão de terapia: franquia israelense de sucesso no mundo todo, veio ao Brasil com as devidas adaptações culturais e direção de Selton Mello, seguindo Theo, um terapeuta, na sua semana carregada de dores alheias.



Rainer Maria Rilke dizia que o jovem poeta que não consegue encontrar poesia em seu cotidiano deve culpar a si, e não à rotina. Essa premissa é bastante seguida em Sessão de terapia: embora alguns dos pacientes possuam problemas que não se encontra em qualquer esquina, a maioria sofre de males pouco extraordinários, que encantam exatamente por sua falta de ineditismo.

06 dezembro 2012

A corrida de escorpião




Dou graças aos céus por nunca ter entrado na ondinha I-love-UK de detestar o Brasil e tudo que vem daqui. Não falo isso só pelo lado nacionalista de amar o seu país e mimimi (embora esse seja um mimimi verdadeiro e importante para mim) mas sim pelo de idolatrar outra nação sem saber de fato os seus defeitos e trunfos, de dobrar o joelho para o que vem de fora quase que indiscriminadamente. O sentimento de pertencer é bom sob qualquer circunstância – mesmo que seja para o tal do viajar o mundo e não esquecer o quintal de casa.

Puck Conolly, protagonista de A corrida de escorpião, não quer nem a parte de viajar o mundo, ainda que a ilha de Thisby, onde nasceu e viveu sua vida inteira, tenha sido o cenário da situação mais triste de sua vida – a morte repentina de seus pais. Thisby tem algo de bastante peculiar: os capaill uisce, cavalos que saem do mar e se alimentam de carne e sangue ao invés de feno, sendo seu pão e vinho freqüentemente provenientes daqueles que os montam (ou tentam).

Puck, pelos lápis de um fã.

Em novembro, quando o mar está agitado e os capaill ainda mais, ocorrem as corridas de escorpião (basicamente a única fonte de renda da ilha) onde homens de todas as idades e classes sociais enfrentam o irresistível perigo de correr nesses enormes e fatais cavalos. É redundante dizer que a maré alta lavará o sangue de muitos deles da areia no final do mês.

Embora odeie esse símbolo da ilha – ela nunca foi às corridas – Puck ama Thisby, e se desespera quando seu irmão mais velho, Gabe, anuncia que vai ao continente em busca de emprego. Ainda que ele já trabalhe e Puck e o caçula Finn façam bicos, o dinheiro é curto, fazendo com que três órfãos corram riscos muito maiores do que o atual desconforto em viver à base de maçãs e feijão.

Tentando manter o que resta de sua família unida, Puck anuncia que se juntará às corridas – a primeira mulher desde sempre a fazê-lo. Contará com, além da resistência dos seus concidadãos, a ajuda de Sean Kendrick, cavalariço cuja mera presença parece exercer um poder mágico sobre os capaill – ele os controla perfeitamente, tendo ganho quatro das seis vezes que participou das corridas de escorpião.

04 dezembro 2012

Cinco livros que eu não me importaria de ganhar do papai noel




Atualmente me falta tempo para ler, não livros. Sim, senhoras e senhores, quando este post foi escrito, eu estava na marca dos cinquenta e dois livros comprados/emprestados e não lidos – e contando (dê uma espiada aqui). Cheguei ao ponto de ficar angustiada – porque as pessoas continuam escrevendo histórias legais? Nunca vou poder ler tudo! O pensamento de que pode ter outro As vantagens de ser invisível por aí que eu nunca vou chegar a conhecer me faz roer as unhas e respirar fundo para não chorar.

Não riam. É triste, e é sério.

Mas é a vida.

Estou tentando me segurar e não ser uma Becky Bloom dos livros, como bem definiu Larissa Siriani nesse vídeo daqui. Só que é claro que as pessoas não deixam de produzir livros legais só porque tenho muito o que ler, e é claro que eu não deixo de descobrir novas obras. Com dor no coração porque provavelmente não os encontrarei a beira da árvore no dia 25, aí vai meu top cinco de mais desejados.

30 novembro 2012

Submarino + sorteio!



Oliver Tate gosta de livros, escrever e devaneios no meio da aula.

Se identificou?

É, eu também.

Um belo dia, ele decide que a bonita, reservada e não excessivamente popular Jordana Bevan seria a candidata perfeita a namorada – afinal, o único defeito aparente dela é um leve eczema e uma tendência a piromania. Basicamente, a garota dos sonhos de Oliver.

27 novembro 2012

O filho de netuno




Em O herói perdido (volume um da série Heróis do Olimpo, de Rick Riordan) Jason, herói romano do acampamento Júpiter e filho deste último ilustre, foi ao já conhecido acampamento meio sangue, aprendendo e lutando lado a lado com os heróis gregos.

Agora é a vez de Percy Jackson, filho de Poseidon e protagonista de Percy Jackson e os olimpianos, de perder suas lembranças: ele não se lembra de nada de sua vida antes da loba Lupa, a lendária figura romana, resgatá-lo e treiná-lo. Depois de uma jornada um pouco penosa, o rapaz chega ao acampamento Júpiter, tão diferente do que ele conhece que a amnésia é até conveniente.

24 novembro 2012

Amanhecer, parte II




Dez entre dez manuais de escrita rezam que para que um livro exerça aquele fascínio mágico e conquiste o leitor as páginas iniciais devem ser bem escritas e cativantes. Como leitora, já tive a oportunidade de provar isso: não confio em sinopses, então muitas vezes o primeiro capítulo folheado em uma livraria acaba sendo o juiz se comprarei ou não.


Com filme, a lógica também funciona – algumas cenas iniciais são simplesmente apaixonantes. A de Obrigado por fumar, por exemplo, é adorável, estruturada toda em forma de uma propaganda de cigarro dos anos 50, os créditos em caixas de cigarro. O monólogo de Mark Renton, em Trainspotting, se tornou uma das minhas quotes favoritas do cinema, sem falar das imagens mezzo assustadoras, mezzo poéticas que iniciam Melancolia.

E, estranhamente, a cena inicial de Amanhecer parte II também entrou para este seleto grupo. É,é.

20 novembro 2012

Gênesis



Uma dos aspectos mais marcantes da chamada “literatura de entretenimento” é a maneira com que se colocam cenas de ação e acontecimentos marcantes – o autor deve ser habilidoso o suficiente para distribuí-las de uma maneira tão boa que o leitor não consiga largar o livro (veja: GREEN, John em A culpa é das estrelas; WINSLOW, Don em Selvagens dentre outros).

Isso pode ser bom, já que cria uma literatura mais semelhante ao cinema, e, portanto, mais palatável para leitores menos concentrados. O problema (que não é uma catastofre ou calamidade como afirmam os pseudo-cults, mas sim uma pedrinha no caminho) é que  os chamados clássicos, que discorrem sobre as grandes questões humanas, dificilmente serão páreo para esses livros quando escolhidos por algum jovem que cresceu cheio de informação e rotulados, quase sempre, como chatos.

17 novembro 2012

Obrigado por fumar




Ao meu ver, boa parte da oposição ao politicamente correto (leia-se a ideia de alterar linguagens e costumes para que as mesmos não ofendam minorias, e não a cartilha) é feita por pessoas no mínimo preguiçosas, no máximo de fato preconceituosas, que em qualquer caso se recusam a admitir que os tempos mudaram e que o respeito é para todos, com pequenas coisas como palavrinhas e expressões sendo essenciais para quebrar um enorme e longo legado de opressão.

Em algumas (poucas!) coisas, porém, o politicamente correto cerceia a liberdade do individuo. A cruzada contra fumantes, bebedores (aliás, qual a palavra para quem bebe ocasionalmente, ou seja, não é alcoólatra?) e gordos, por exemplo, é algo que me irrita muito. Nos foquemos nos fumantes.

13 novembro 2012

Cidade de vidro



Encontrei-me elogiando Cassandra Clare em mais de uma ocasião (a saber, no  primeiro e no segundo volumes de Os instrumentos mortais, assim como na adorável As peças infernais aqui e aqui). Não retiro os elogios, mas o que teria ocorrido em Cidade de vidro? Estaria eu mais intolerante com os erros dos escritores que leio? Ou a queda brusca de qualidade foi a natural em autores de trilogias?

[Poderá conter spoilers de Cidade das cinzas.]

10 novembro 2012

Gattaca




Vincent queria ser astronauta.

No seu tempo, a tecnologia já está tão avançada que explorar outros planetas e lá estabelecer missões não é um sonho distante, e sim uma realidade diária. Os anos passam e a vontade de Vincent não. Na sua candidatura, entre notas perfeitas nos testes e uma determinação sem igual, há um problema: Vincent é um filho do acaso.

Além de conseguir explorar outros planetas, a tecnologia também levou a possibilidade de melhorias genéticas inacreditáveis. O jeito comum de se nascer na época de Vincent é por proveta, com genes escolhidos para saúde perfeita, inteligência e até mesmo talentos específicos – futuros pianistas, por exemplo, são gerados com doze dedos.

06 novembro 2012

A rainha do castelo de ar




Tenho protelado a leitura de A rainha do castelo de ar por um motivo bem simples: eu não quero que a série Millenium, uma das minhas preferidas, acabe - ao menos não para mim como leitora, já que, tecnicamente, não há como haver uma continuação.

Comecei a ler as aventuras de Mikael Blomkvist e Lisbeth Salander em 2011, por influência da mídia: muito se falava da adaptação americana para os cinemas, estrelada por Daniel Craig (falei dessa versão de Os homens que não amavam as mulheres aqui e da filmada por suecos aqui). Além disso, pipocavam notícias sobre a morte do autor, Stieg Larsson, ocorrida nas escadas do prédio onde ele morava – sessenta cigarros e litros de café por dia durante anos cobraram seu preço.

Embora essa não seja a impressão que fique (toques do editor, talvez?) Millenium estava programada para ter cinco, e não três livros. Aos leitores, só resta imaginar o que Stieg Larsson planejava e aproveitar o máximo possível os livros existentes. [A partir daqui, contém spoilers do segundo livro, A menina que brincava com fogo.]

31 outubro 2012

O herói perdido


Algo comum a todo aspirante a [insira coisa aqui]:

demorar para perceber que você só aprende a fazer fazendo.

perceber que a prática, jovem Padawan, não leva a perfeição, mas te deixa mais longe da completa inabilidade.

Enfim, me toquei há pouquíssimo tempo que o próximo bestseller não ia somente se materializar em um arquivo Word de duzentas páginas com espaço duplo em Times New Roman 12 – mas isso é outra história. O ponto principal (do qual, como sempre, me distraio) é que a escrita, como qualquer outra coisa, evolui com o tempo caso você continue praticando.

Percebi isso como nunca lendo O herói perdido. Rick Riordan, seu autor, também é o papai de Percy Jackson e os olimpianos, série literária de sucesso tão grande que com certeza foi fator motivador para essa nova empreitada.

29 outubro 2012

The art of getting by




Pais e professores devem passar por um mau bocado. Não falo só sobre a responsabilidade geral de ambas as categorias de educar, mas também de perceber alguns sinais – difíceis de se detectar quando se trata de um adolescente. Como saber quem só está passando por uma fase difícil ou quem é uma futura Amanda Todd? As fotos de pulsos cortados no Tumblr são frescura ou um grito de socorro? É bullying ou brincadeiras entre amigos? A diferença pode parecer gritante, mas a supracitada garota (menina canadense de 15 anos que se suicidou graças ao que sofria na escola – com o detalhe que ela havia postado um vídeo-ajuda algum tempo antes, zoado pela maioria e só levado a sério por alguns) é uma das muitas que prova que não.

27 outubro 2012

Aprisionada


Capas de livros são importantes para mim. Mais do que algo que somente protege o miolo, capas são uma amostra grátis uma ideia geral do livro e (porque não?) uma espécie de objeto decorativo.

Já comprei e deixei de comprar uma quantidade ridiculamente grande de livros graças a sua arte de capa. Algumas editoras (muitas grandes, aliás, anulando a desculpa da falta de dinheiro para capistas decentes) escorregam feio nesse aspecto, me fazendo crer num problema de visão coletivo dos envolvidos com a produção; outras me deixam boquiaberta, admirando suas capas por minutos e minutos como uma obra de arte em um museu.

Comprei Aprisionada pela capa (que é ainda melhor ao vivo graças a textura) e apesar deste ter me oferecido uma leitura mediana, servirá muito bem para enfeitar minha estante.

23 outubro 2012

Matadouro cinco




Matadouro cinco despertou minha atenção graças ao site de tatuagens literárias Contrariwise: não é raro encontrar lá tatuagens de pessoas que se inspiraram na que é considerada maior obra de Kurt Vonnegut e o melhor livro anti guerra feito por um americano.



No capítulo inicial, conta-se a história do próprio escritor, um veterano de guerra que se vê há anos tentando escrever um livro sobre o terrível bombardeio de Dresden (135 mil mortos)  na segunda guerra mundial, o qual presenciou por ser prisioneiro dos alemães. Ao ir a casa de um ex colega de regimento para trocar lembranças, o autor vê a esposa de seu amigo inquieta. Eis a razão:

“Vocês eram só bebês na guerra – como os que estão lá em cima[os filhos dela]! (...) Mas você não vai escrever assim, vai? (...) Você vai fingir que vocês eram homens ao invés de bebês, e vocês vão ser interpretado em filmes por Frank Sinatra e John Wayne ou um desses homens glamorosos, sujos e amantes da guerra. E a guerra vai parecer somente maravilhosa, então nós teremos mais um monte delas. E elas vão ser lutadas por bebês como os bebês lá em cima.”

20 outubro 2012

Todas as coisas que eu já fiz



Depois que abri o blog, o número de livros que comprei aumentou substancialmente – até chegar no atual absurdo de cinqüenta e uma obras na estante não-lidas.

Mas com o aumento no número de livros veio um aumento de experiência: agora raramente compro ou começo a ler livros que me desagradam por completo – é só ver a média das notas que dou para os mesmos em minhas resenhas, raramente mais baixa do que B+. Não é porque sou pouco crítica (acho que o caso é até o contrário); só escolho bem o que vou ler.

De vez em quando, acontece desse meu “olho clínico” falhar e algum livro em especial me oferecer uma experiência totalmente o contrário do esperado – não da forma fascinante e maravilhosa, e sim negativa. Foi assim com Todas as coisas que eu já fiz.

Nova Iorque, 2083. O mundo está um caos (existe uma perspectiva de futuro no qual ele não esteja?), dominado por catástrofes ambientais e guerras. Como é comum em situações como esta, símbolos são escolhidos como inimigos públicos, culpados por todo aquele desespero – nesse caso, não os judeus, negros ou homossexuais, e sim o café e o chocolate.

15 outubro 2012

Selvagens + resultado do sorteio




Essa coisa de ficção que fala de gente rica demais me irrita um pouquinho. É algo tão fora da realidade que as vezes é preferível ler um livro de fantasia bem viajado, como As crônicas de Nárnia, a algo cujo protagonistas, contrariando a tendência de quase todos os mortais, não precisam perder seu sono graças ao vil metal.

Esse foi o único defeito que encontrei em Selvagens, porque, de resto, o livro é basicamente impecável. Chon, Ben e Ophelia (doravante chamada de O. – ela detesta o fato de ser xará de uma personagem que se matou afogada) são amigos de vinte e poucos anos curtindo a vida no sul da Califórnia. Chon é ex-fuzileiro naval e uma máquina de matar; Ben é formado em botânica e administração por Berkeley e tem mais projetos sociais que Angelina Jolie e O., bem, ela é muito boa em fazer compras.

Além da grana de família, Ben e Chon sobrevivem com um negócio bem pouco ortodoxo entreos bem-nascidos: venda de maconha. Graças ao maravilhoso “paladar” de ambos e a habilidade de Ben com as plantas, a combinação das espécies sativa e indica de Ben&Chonny’s faz um sucesso estrondoso entre a nata dos mauricinhos, artistas e festeiros do sul da Califórnia.

10 outubro 2012

Precisamos falar sobre o Kevin (livro)



“É sempre culpa da mãe, não é verdade?”, disse ela, bem baixinho, pegando o casaco. “Aquele menino deu errado porque a mãe dele bebia, ou se drogava. Ela deixava o garoto solto na rua; ela não ensinou a ele o que é certo e o que é errado. Nunca estava em casa quando ele voltava da escola. Ninguém nunca diz que o pai era um bêbado, ou que o pai nunca estava em casa quando o garoto voltava da escola. E ninguém jamais diz que alguns desses garotos não prestam e pronto. Não vá você acreditar nessa balela. Não deixe que eles ponham nas suas costas essa matança toda. (...) É duro ser mãe. Ninguém nunca aprovou uma lei que diz que para alguém ficar grávida tem que ser perfeita. Tenho certeza de que você tentou ao máximo. Você não está aqui, nesse fim de mundo, numa bela tarde de sábado? Você continua tentando. Se cuide, meu bem.”

Eva Khatchadourian tinha somente dois desejos quando era criança: sair da cidade onde nasceu (onde sua mãe agorafóbica fazia a casa da família de sarcófago) e ter um homem que a amasse. O primeiro desejo foi logo realizado e bem ao pé da letra – difícil encontrar um país que a destemida escritora de guias de viagem de sucesso não tenha visitado – assim como o segundo, resumido no seu casamento feliz com Franklin Plaskett.

Franklin era a antítese do homem que Eva imaginara que casaria: um americano patriota típico, era estranho para a mulher de origens armênias que odiava tudo que lembrasse a brega, ignorante e doente terra do tio Sam. Mas o fato era que Franklin e Eva eram tão felizes que chegou a sufocar. Eles precisavam de responsabilidade, de desafio, de algo novo.

Eles precisavam de um filho.

08 outubro 2012

Cosmópolis





Tem gente que vê o “preconceito” contra livros Young Adult e Chick-lit como algo injustificável.

Eu não vou tão longe. Não, eu não concordo com as afirmações de que os supracitados gêneros são lixo e não ensinam nada a seus leitores. Mas há de se admitir que livros nesse estilo são mais comerciáveis, e o sendo, tem de ser feitos com linguagem mais acessível e trama mais simples.

O que não quer dizer que eles tenham pouco a oferecer em termos de reflexões aos seus leitores. As vantagens de ser invisível, por exemplo: como abordar temas complicados tipo relações familiares, drogas e preconceito atingindo tão bem o público jovem?

Mas ao contrário dos livros tido como “sérios”, infelizmente há como dissociar a parte reflexiva do enredo, compreendendo mesmo sem precisar pensar muito. Deixe-me pegar um exemplo recente: no lançamento da adaptação cinematográfica do sucesso Jogos Vorazes, vários fãs se mostraram revoltadissimos quanto a mesma. A razão? O fato dos tributos do distrito 11, Rue e Thresh, serem encarnados por atores negros.

É.

05 outubro 2012

Feita de fumaça e osso + sorteio!


Tive dois motivos especiais (e extremamente pessoais) para passar Feita de fumaça e osso na frente das minhas listas de leituras e de resenhas. Os dois deles foram relacionados a protagonista Karou, porque ela:

a) tem cabelo azul e
b) mora em Praga.
O primeiro é bestinha, mas fez com que eu me identificasse já que tive cabelo azul, acho lindo e provavelmente voltarei a ter em breve. O segundo justifica-se não só porque Praga é uma cidade de sonho, mas também porque é a capital da República Tcheca (oooh), país que escolhi para fazer meu intercâmbio – um ano letivo de ensino médio, iniciando-se em agosto do ano que vem. Como uma típica pré-intercambista, anseio bastante pelo dia de deixar o ninho e por enquanto vou me resumindo a procurar o máximo possível sobre o país que chamarei de casa por dez meses.

02 outubro 2012

Cães de aluguel








O background do blog dá uma ideia de o quanto gosto da obra de Quentin Tarantino. Como mera espectadora que assiste filmes por pura diversão, não sou muito de analisar seus aspectos mais técnicos, como a direção, mas eu assistiria com prazer até um vídeo caseiro bobinho do natal de Tarantino.

Ele é como o Chuck Palahniuk (resenhas de livros dele aqui e aqui) do cinema: seus personagens são ao mesmo tempo únicos e reais, sem aquela coisa meio forçada estilo Clementine. Os diálogos versam sobre coisas banais como a influência do sistema métrico no nome dos sanduíches do McDonald’s ou o significado da música Like a virgin, mas são essas banalidades pontuais que o tornam genial ao ponto de você se perguntar “como eu vivi sem assistir isso?”.

30 setembro 2012

Cidade das cinzas




Ei você, fã de literatura para jovens, tenho uma pergunta a lhe fazer.

Procurando nas caixas mais empoeiradas nas esquinas de seu cérebro – bem lá no fundo mesmo – quantos livros únicos não contemporâneos (ou seja, que não se focam nos problemas do dia-a-dia) desse gênero você consegue achar? Quantos livros que não fazem parte de séries – sem continuação ou problemas complexos demais a se resolver?

Depois de ver uma lista no blog Amount of words, onde Giu Fernandes lista onze séries que ela ainda não terminou de ler, constatei que estou em uma situação levemente mais desesperadora: por amar distopias e ter recentemente “feito as pazes” com livros do gênero fantástico, mais de 60% das minhas leituras no ano de 2012 foram partes de séries.

Talvez as editoras pressionem demais. Talvez um número elevado de páginas assustasse os leitores mais jovens. Talvez sejam os próprios autores que tenham preguicinha de desenvolver a história inteira em um só volume. Não sei – as razões são infinitas.

Mas daí a não poder comprar um livro sequer sem arriscar minhas unhas na ansiedade pela continuação (não rôo as unhas, mas vocês entenderam a metáfora) é bem diferente.

26 setembro 2012

Razão e sensibilidade




Eu estava lendo Cosmópolis quando Jane Austen me chamou.

Não que Cosmópolis fosse um livro ruim – muito pelo contrário pelo que pude ver – mas relancear a adaptação cinematográfica de Orgulho e preconceito na televisão causou-me aquela febre por um determinado assunto que acomete leitores e cinéfilos de vez em quando, tão inexplicável, repentina e essencial de se saciar como um desejo de grávida. Resultado: a leitura (por muito procrastinada) de Razão e sensibilidade e assistir uma temporada inteira de Downton Abbey (uma das melhores séries de época que já vi – Fernanda falou dela aqui melhor do que eu poderia) em dois dias.

Como Machado de Assis fez no Brasil, Jane Austen retratou os defeitos humanos sem dó – talvez de forma um pouco mais sutil do que o maior escritor da literatura brasileira (como convinha a uma moça de família aristocrática daquela época) mas ainda assim fabulosa.

É a sutileza da ironia em Jane Austen que faz com que eu deteste as adaptações de seus livros para as telas: exceto pelas mini-séries da BBC, em geral se dá um certo tom de comédia romântica, de besteirol, de filme com Hugh Grant enfim, uma quase heresia que me fez revirar os olhos para todas que assisti.

21 setembro 2012

Revolution (série)




Como o próprio nome do blog diz, livros, filmes e séries sobre um fim do mundo sem esperanças são a minha praia. Graças a sucessos como Jogos Vorazes, distopias literárias estão em alta (em alta demais, eu diria – alguns livros do gênero são bastante fracos, feitos somente para “aproveitar a onda”) e graças aos nerds fãs de ficção científica, não posso reclamar do número de filmes que encontro com governos despóticos. Se é distopia “de verdade” não sei (o pessoal do blog Nem um pouco épico conceituou o gênero melhor do que eu aqui) mas consegue me satisfazer.

19 setembro 2012

Cidade dos ossos




Ah, é tão bom poder mudar de opinião. Não ser estática sem medo de parecer influenciável. Não ser dona da verdade pura, absoluta e universal.

Esse prazer de ser volúvel não sendo também se aplica aos livros.

Graças a uma comunidade no Orkut – se não me engano a Nossos quotes – me interessei pela série Os instrumentos mortais. Não gosto muito de quotes de forma geral (Clarice Lispector que o diga – a descontextualizarão de sua obra em imagens de Facebook faz com que muitos a tratem como uma escritora qualquer) mas as expostas de Cidades dos Ossos eram bastante engraçadas – então resolvi tentar.

E detestei. Na verdade, quase caia no sono. Deixei então o tal ebook de lado (sim, eu era levemente criminosa naquela época – não me culpem: não conhecia as barganhas do Submarino e do Book Depository) feliz pela decisão de não ter comprado o livro “físico” – afinal, só faria juntar poeira.

Há alguns meses, porém, me deparei com Anjo Mecânico, da mesma autora e no mesmo universo ficcional (Anjo mecânico faz parte da prequel As peças infernais, enquanto Cidade dos ossos da série Os instrumentos mortais) onde os Caçadores das sombras coexistem com um mundo fantástico, destruindo demônios e mantendo a paz entre fadas, vampiros, lobisomens, feiticeiros e outras criaturas fantásticas mais.

15 setembro 2012

Puros




Dentro do mundo das distopias, algumas possibilidades são pouco exploradas por escritores e roteiristas.
Guerras com armas biológicas, por exemplo. Tão possível quanto uma ditadura a morte de quase todos pelos esporos de algo como o antrax pode render histórias interessantes e extremamente próximas da realidade.

Certo, admito, tenho outra razão para reclamar da falta de livros nesse estilo: como já disse por aqui, comecei a escrever “de verdade” com fanfics. Quando enjooei de imaginar histórias adicionais com Harry Potter, parti para trabalhos “originais” e um dos primeiros (que, como sempre, nunca foi concluído) foi um livro chamado The Plague, que retratava, vejam só, a morte de quase todos por um vírus. Sim, eu era idiota o suficiente para por um nome em inglês. E que já foi usado.

Minha falta de criatividade é um exemplo grotesco da veracidade daquela velha dica batida para aspirantes a escritor: leia, leia, leia. Sem ler, como saber que mil pessoas já fizeram o mesmo que você – infinitas vezes melhor – e dar asas a sua imaginação – para, de fato, inovar?

07 setembro 2012

Confiar




Sofro de um mal que esperocreio que seja coletivo: uma vontade implacável de colocar todos aqueles queridos e amados em uma redoma de vidro inquebrável, para que nada os atinja ou os machuque, para que nunca percam a fé na humanidade ou sintam vontade de morrer.

É claro que isso tem lá suas desvantagens: como disse o filósofo, é impossível conhecer o prazer sem conhecer a dor. Não sei se abriria mão de um pela ausência do outro, portanto não sei se desejaria isso para alguém que gosto; mas como a possibilidade de arranjar uma redoma de vidro a prova de decepções e perigos é mínima, não gasto muito tempo nessa reflexão.

Mas esse deve ser o desejo mais profundo daqueles cujos entes queridos sofreram aqueles tipos de violência indizível que preferimos ignorar a existência. Deve ter sido esse o desejo de Will e Lynn, pais de Annie, protagonista do filme Confiar.


03 setembro 2012

Starters



O mundo de Starters foi devastado pela guerra de esporos: um conflito a nível mundial, mortal para todos aqueles que não receberam a vacina contra as armas biológicas – ou seja, todos entre 20 e 60 anos que, por serem considerados menos vulneráveis que os pequenos ou os idosos, ficaram para um depois que não chegou.

Depois do falecimento de seus pais, Callie então foi tirada de uma vida segura e saudável para ser jogada na dura realidade das ruas, morando em prédios abandonados com outras crianças órfãs enquanto foge dos inspetores – ser um menor sem responsável é um crime que não se escolhe cometer, punível com trabalho semi-escravo em Instituições – e de gangues de adolescentes rebeldes, perigosos e assustados. O mundo então fica dividido: os jovens Starters (alguns sortudos, adotados por avós ou bisavôs; outros, assim como Callie, nem tanto) e os idosos Enders (ativos como nunca, já que a sociedade precisava continuar e a tecnologia evoluiu o suficiente para deixá-los saudáveis até os 200, 300 anos). Um grupo sente um medo mortal do outro, vendo-o como inimigo, como predador.

31 agosto 2012

A culpa é das estrelas


É inevitável não esperar muito de alguns livros. Seja pelo autor, por comentários ou pelo tema: às vezes fica impossível não colocar as expectativas lá em cima, e, por vezes torná-las irreais.

Queria ser capaz de não criar expectativas assim, tão altas: é garantia de uma decepção, ainda que leve. Mas é possível se decepcionar com algo muito bom (desde que se esperasse algo estelar) e esse foi o caso de A culpa é das estrelas.

Hazel tem dezesseis anos e foi diagnosticada com câncer há três. Sua vida gira em torno da doença: as funções de sua família (a mãe parou de trabalhar para cuidar dela), a sua (falta de) amigos e o fato de ir para todo canto com um cilindro de oxigênio, atraindo olhares do que acredita ser um dos piores sentimentos existentes – a pena. A morte prematura é certa para nossa jovem heroína – o capítulo final de sua vida foi escrito no momento do diagnóstico – e alguns poucos anos a mais são sua máxima esperança.

Orações melosas, testemunhos deprimentes e frases motivacionais mal-feitas se tornam parte do cotidiano de Hazel graças a um dos principais efeitos colaterais de se estar morrendo: a depressão. Não há nada que a ajude no grupo de apoio para crianças com câncer que participa uma vez por semana além de Isaac, garoto sem um olho que também parece reparar quão piegas são as falas de seu líder.

Até que Augustus Waters aparece.

27 agosto 2012

O torreão


Como escritora, Jennifer Egan só tem um defeito: ela está viva.

Sim, detesto quando meus ídolos são pessoas com sangue correndo nas veias e ar nos pulmões: qual a garantia que possuo que eles não irão me decepcionar? A inexistência dessa possibilidade me agrada muito, mas infelizmente não é o caso de todos os grandes escritores. Ou felizmente: eles podem superar suas obras anteriores. Mas prefiro não correr o risco.

A expectativa de uma boa experiência literária, porém, supera o receio de que esta seja uma porcaria completa – e foi assim que parti para a leitura de O torreão.

Danny era o típico galã de filmes adolescentes americanos: jogador de futebol bonito popular bom aluno... Mas ir fazer a faculdade em Nova York o modifica bastante: Danny abandona a faculdade, adota um visual mais “alternativo” e, contrariando o que lhe foi ensinado, passa os dezesseis anos seguintes pulando de emprego em emprego e levando uma vida bastante arriscada e boêmia.

24 agosto 2012

Precisamos falar sobre o Kevin (filme)



Kevin já nasceu estranho. Desde o berço, a diferença entre seu comportamento frente à mãe Eva e frente ao pai Franklin (que se estende ao resto da humanidade) é enorme: com ela, um pesadelo – é marcante quando Eva prefere o barulho de uma furadeira ao choro insistente do filho. Com ele, um sonho, comportado e extremamente inteligente.

Os anos passam e a coisa piora: o que podíamos denominar de mal-criação persistente vira pura maldade. Como vários psicopatas mirins, as vítimas de Kevin são variadas e seu gosto pela dor (o bichinho de estimação de sua irmã não dura quase nada) é óbvio – mas seu principal alvo não deixa de ser sua mãe.

22 agosto 2012

O sonho de Eva



Eva Abelar é uma das maiores especialistas do mundo em sonhos lúcidos. Embora talentosa e dedicada, ela é ridicularizada pela comunidade científica  graças a abordagem pouco ortodoxa de suas pesquisas – e que “vingança” melhor do que ser convidada a trabalhar para a Yume, uma das maiores e mais sérias empresas do mundo? Poderia ter sido uma enorme vitória.

Poderia.

Mas as circunstâncias não são exatamente propícias para uma celebração. Dias antes, durante uma conferência em Viena, Eva havia recebido as notícias de duas catástrofes: a de que Anna, sua irmã, se jogara de cima da cobertura onde morava e que Joachim, seu filho de sete anos (autista e entregue aos cuidados da tia durante a viagem da mãe) desaparecera.

Diante da falta de respostas da polícia e pressentindo uma conexão entre a morte de Anna, o desaparecimento de Joachim e a Yume, Eva então faz o inesperado: aceita a proposta. Sua missão: ocupar o posto da irmã na equipe do DreamGame, empreitada inusitada da Yume que permitirá aos seus usuários que sonhem no mais real e ilimitado ambiente que existe: seus sonhos.

21 agosto 2012

Bel Ami (filme)


Por meio desta, eu confesso:
fui fã de Crepúsculo.

Dessas de passar horas em sites e sonhar com o Jacob; de escrever fanfic e fazer uma camiseta para a estréia do filme. De recortar entrevistas e fotos dos atores em revistas e guardar em uma pastinha. De ficar com ciúmes quando as amigas começaram a gostar também. O fato é que todos temos uma listinha secreta de coisas que gostamos e hoje nos dão vergonha, fotos de franjas cortadas em casa e atitudes inocentes, porém ridículas.

Se você for fã de Crepúsculo, não me mate (como eu faria na época com alguém que falasse esse tipo de coisa) mas com o passar do tempo, fui percebendo a óbvia falta de qualidade da obra de Stephanie Meyer. Já quanto aos filmes, eles não são tão ruins assim em termos de produção (pudera, com um orçamento milionário) – mas os atores deixam bastante a desejar: Kristen Stewart tem basicamente uma expressão facial (porque, Walter Salles, por quê?) e Robert Pattison... Bom, ele não estava ruim, mas tão pouco merecia um salário tão grande e tanta atenção.

19 agosto 2012

As vantagens de ser invisível e tatuagens literárias


Sou louca para fazer uma tatuagem, e quase todas nas quais já pensei são frases de livros que, de alguma maneira, marcaram a minha vida. Por isso o Contrariwise – que reúne tatuagens literárias de várias pessoas ao redor do globo – é um dos meus sites favoritos na internet. As minhas preferidas são as do poeta e.e. cummings (sim, se escreve com letra minúscula). Alguns tatuam estrofes inteiras, mas as palavras desse poeta são fortes o suficiente para funcionarem como frases soltas.


Jack Kerouac, ícone da geração beat, também inspira muita gente.


Kurt Vonnegut é bastante popular por lá, e isso me influenciou a comprar o seu livro Slaughterhouse Five, tido como um dos maiores livros anti-guerra de todos os tempos. A frase “so it goes” (algo como “assim vai” em português) é repetida 127 vezes em todo o livro, fato que incentivou os blogueiros do Contrariwise a procurar o mesmo número de tatuagens com essas três palavrinhas. Já conseguiram 44.